
A Fenomenologia Concreta de Ernst Bloch
Por
Jacob (J.) Lumier
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Embora seja estudado em ligação com as conhecidas correntes intelectuais do Século Vinte influenciadas por dogmas materialistas, Ernst Bloch é um dos pioneiros da relativização da dialética na crítica-histórica e desenvolve em sua obra a compreensão da totalidade múltipla, ou seja: a totalidade com vários níveis de realidade histórica ou de passado.
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►No artigo "História e Consciência Coletiva na Modernização Acelerada dos Anos Vinte: Pré-capitalismo e Crítica da Cultura Tradicional do ponto de vista das regiões mais vinculadas ao medievo", publicado em Reflexão e Crítica, a descoberta de uma problemática fenomenológica na crítica do processus histórico do mundo moderno é assinalada como orientação de Ernst Bloch em suas análises da crise dos anos vinte na Alemanha (o psiquismo coletivo dos "de baixo" como relacionada à figura do pequeno homem).
Dentre os vários aspectos que corroboram uma fenomenologia, assinala-se que a burguesia declinante exprime o vazio de um mundo seu preenchido pelas coincidências de uma história dos fenômenos.
Quer dizer, tomando em consideração o conjunto dessas coincidências Ernst Bloch observará tratar-se de um tempo em ausência de intenção, tendo relevo a relativização das coerências, não como um fim, mas no sentido de uma fenomenologia em caminho, em vias de se fazer como reencontro estranho da antiga cultura (pressupondo a marcha do gótico tardio) e do individualismo.
Isto porque, em um tempo em ausência de intenção, a atividade onírica in-dormida pode ser verificada e descrita em maneira objetiva, revelando-se mais acessível à crítica-histórica do tradicional na modernização, de tal sorte que a análise caminha para a fenomenologia concreta.
Os sonhos passados compreendidos no sentido de atividade onírica in-dormida se associam na juventude à inquietação orgânica, em maneira propícia aos movimentos de exaltação personalista, como eram aqueles movimentos alheios à modernização compostos pela montage na burguesia.
Em sua obra “Le Príncipe Espérance”, a função utópica é estabelecida no conhecimento filosófico como pulsão imprescindível à auto-conservação, sendo a partir dessa compreensão que Ernst Bloch a classificará na extensão do desejo de ser melhor aquinhoado.
Por sua vez, em virtude de sua natureza gestante, o desejo de ser melhor aquinhoado jamais se completa, é permanente em sua não-complementação, restando em fato e necessariamente irrealizado no estado de atenção, base fenomenológica de toda a comunicação existencial.
Desta forma, haverá que distinguir em paralelo às imagens simbólicas ideais em que a sociologia estuda a moralidade ideológica, aquelas outras que, ultrapassando-as, devem ser compreendidas como imagens-aspiração: o herói cavaleiresco, as formas góticas dos mobiliários, solares e mansões rústicas, por exemplo.
Nestas se incluem as imagens formadas de sonhos passados, as imagens diferenciadamente formadas pelo elemento onírico da arte que integram o ideal estético realista ou entelequial, sendo exatamente os sonhos passados que segregam o critério para a não-contemporaneidade.
Acresce que as formas passadas ou pré-capitalistas jamais tornaram em fatos realizados os conteúdos visados do solar, do solo, dos "de baixo", de sorte que esses focos do tradicional na cultura já guardam desde o começo a qualidade de intenções insatisfeitas.
Além disso, notando que estas intenções insatisfeitas passam ao longo da história por contradições veladas, Ernst Bloch as examinará desde a colocação em perspectiva filosófica, para além da psicologia representacional, tratando-as como conteúdos intencionais não ainda trazidos à luz do passado na realidade da cultura, o que o levará a definir o campo estético em eficácia como o concretamente utópico (Cf. tópico "O Romantismo na Modernização", Page "Observações para a Crítica da Cultura", link: http://openfsm.net/people/jpgdn37/observacoes-para-a-critica-da-cultura)
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